A agora
presidente afastada foi recebida do lado de fora do Planalto por aquele que a
colocou lá: Luiz Inácio Lula da Silva. E se manteve firma na retórica do golpe.
Oficialmente
afastada nesta quinta-feira do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff insistiu em
seu derradeiro discurso na ideia petista de que a democracia é simbolizada
apenas pelo voto popular. Ao tachar novamente o processo de impeachment de
golpe e questionar sua validade, ela mais uma vez ignorou as instituições que
fazem do Brasil um Estado democrático de direito - e que chancelaram o processo
que culminou no seu afastamento. "É na condição de presidente eleita com
54 milhões de votos que eu me dirijo a vocês neste momento. O que está em jogo
não é apenas o meu mandato. É o respeito às urnas, à vontade soberana do povo
brasileiro e à Constituição." Dilma deixou o Planalto na sequência do
discurso pela porta da frente e foi cumprimentar os militantes que a esperavam.
Lá, foi recebida pelo padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva.
Seguindo a
tática que a levou ao segundo mandato, Dilma insistiu no discurso do medo.
"O que está em jogo são as conquistas dos últimos treze anos, os ganhos
das pessoas mais pobres e da classe média, a proteção às crianças, aos jovens
chegando nas universidades, à valorização do salário mínimo", afirmou.
"O que está em jogo é o futuro do país e a esperança de avançar
sempre."
A agora
presidente afastada culpou ainda a oposição pelo caos político e econômico em
que sua própria incompetência mergulhou o Brasil. "Meu governo tem sido
alvo de incessante sabotagem. Ao me impedirem de governar, criaram um ambiente
propício ao golpe." Ela acusou os oposicionistas de "mergulhar o país
na instabilidade para tomar à força o que não conquistaram nas urnas".
Como de praxe, ignorou que seu vice Michel Temer, que assume nesta quinta-feira
o Palácio do Planalto, foi eleito em sua chapa, com os mesmos 54 milhões de
votos que ela recebeu.
Dilma deixou
claro ao longo de todo o discurso que não reconhece a letra da Constituição que
estabelece o impeachment - e as instituições que a fizeram ser cumprida. Embora
o rito do impedimento tenha sido estabelecido pelo Supremo Tribunal Federal e o
processo conduzido pela Câmara e pelo Senado - cujos integrantes também são
eleitos pelo voto popular -, Dilma negou sua validade. "Não cometi crime
de responsabilidade. Não há razão para o impeachment. Não tenho contas no
exterior, não compactuei com a corrupção. Esse é um processo frágil e injusto,
desencadeado contra uma pessoa honesta e inocente." Ela classificou as
ações que ensejaram a acusação de crime de responsabilidade contra si de
"legais, corretas, necessárias e corriqueiras".
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