Os tucanos conseguirão sair menores do impeachment do que
entraram
Parece inacreditável, mas o principal partido de oposição ao
PT – o PSDB – conseguirá sair menor de toda essa crise política.
Caso o impeachment seja aprovado pela Câmara dos Deputados
nos próximos dias, e, em seguida, ratificado em primeira votação pelo Senado
Federal não terá sido graças aos senadores Aécio Neves, Aloysio Nunes
Ferreira, Antonio Anastasia, Ataídes Oliveira, Cássio Cunha Lima, Dalírio
Beber, Paulo Bauer, Ricardo Ferraço e Tasso Jereissati. (José Serra é outra
história: está negociando sua participaçãono
possível governo Temer há tempos. )
Ao contrário: a tentativa de deslegitimar a vitória de Dilma
Rousseff em 2014 com o argumento de que urnas foram fraudadas deu ao partido a
pecha de mau perdedor. É atitude de quem acha que democracia é ótima, desde que
eu ganhe. Certamente não é compartilhada pela maioria dos filiados ao partido.
É lamentável que o PSDB se encontre nessa situação hoje.
Afinal, como argumentou o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, tesoureiro de
campanha presidencial e ministro de FHC, o PSDB deveria ser um partido “democrático, de esquerda e
contemporâneo”. Bresser-Pereira desfiliou-se
em 2011.
Um partido democrático e de esquerda? O cientista político
Celso Roma, um dos melhores estudiosos sobre o PSDB, chegou à conclusão
contrária em estudo de
2002. Baseando-se em pesquisa com líderes locais do partido, afirma que a
aliança PSDB-PFL (atual DEM – obrigado, Antonio Lavareda!) foi ideológica, não
pragmática. Ou seja: os militantes do PSDB são muito mais conservadores do que
alguns de seus líderes nacionais, como José Serra, Fernando Henrique Cardoso e
(talvez) Aécio Neves.
Geraldo Alckmin é a exceção. No comando do governo paulista,
tem dado, nos últimos anos, uma guinada considerável à direita. O mais recente
reflexo disso foi a nomeação do desembargador José Renato Nalini para a
secretaria da Educação. Nalini conseguiu a proeza de publicar um texto, no
site da secretaria, defendendo que segurança e justiça são as únicas funções
essenciais do governo. E educação? Pois é. O desembargador Nalini ignora a
Constituição de 1988.
Não é à toa que figuras históricas do partido, como
Bresser-Pereira e alguns outros intelectuais, estejam tão decepcionadas. O PT
deixará um vazio enorme na política nos próximos anos. O PSDB poderia ocupar
esse espaço, de centro-esquerda, e oferecer uma boa alternativa nas eleições
presidenciais de 2018. Caso continue, na prática, sob o comando de Alckmin, o
partido terá futuro sombrio.
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