
Os grupos que levaram centenas de milhares de brasileiros às ruas no primeiro semestre deste ano para protestar contra o governo da presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores voltam neste domingo a se manifestar. Desta vez, o mote é o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff acolhido pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no dia 8. O objetivo dos manifestantes é pressionar o Congresso a dar prosseguimento à ação que pode resultar no impedimento da petista. De acordo com informações dos movimentos Vem pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL), há atos confirmados em mais de 100 cidades nos 26 Estados e no Distrito Federal.
Os organizadores das manifestações esperam que menos pessoas saiam às ruas neste dia 13 - sobretudo porque houve pouco tempo para divulgação dos atos. Por isso, as lideranças tratam a manifestação como um "esquenta" para um mega ato, cuja data deve ser anunciada neste domingo. "Fomos nós que impusemos essa agenda no Congresso. Nenhum partido comprava a ideia antes, mas desde o início nós estávamos gritando 'Fora Dilma'. O Brasil não aguenta mais esse governo", afirmou Renan Haas, do MBL.
Segundo ele, além de pedir o afastamento de Dilma, os atos centrarão fogo nos deputados contrários ao impeachment, de acordo com a base eleitoral de cada um. "Aqui, em São Paulo, por exemplo, será 'Fora Dilma e leva o [Celso] Russomanno com você'. No Rio, será contra o [Leonardo] Picciani, e por aí vai". Também haverá reivindicações pela destituição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e pela não intervenção do Supremo Tribunal Federal no rito do impeachment.
Dado o pouco tempo para arrecadar fundos, a estrutura do principal protesto, que será realizado na Avenida Paulista, no centro de São Paulo, deve ser menor do que a dos atos anteriores. "Não vai ter tanta faixa, nem lambe-lambe, como da última vez. Vamos nos focar mais no carro de som", afirmou Haas. Tirando isso e o fato de que a Avenida Paulista já vai estar fechada para a circulação de carros, a organização deve ser a mesma das manifestações passadas. Cada grupo se posicionará em um ponto da via e os manifestantes devem se aglomerar em volta dos trio elétricos - MBL vai ficar na frente do vão livre do Masp e o Vem pra Rua, no cruzamento da Pamplona. Outra presença esperada é a do pixuleco, boneco inflável do ex-presidente Lula vestido de presidiário.
A expectativa de que o agravamento da crise financeira infle as manifestações no ano que vem levou os parlamentares da oposição a defenderem a manutenção do recesso, o que faria com que o processo de destituição se arrastasse até fevereiro de 2016. O Planalto, por sua vez, conta com o clima de fim de ano para esvaziar o ato e pretende colocar um ponto final na discussão o quanto antes. Tanto um lado como o outro consideram que o agravamento da crise e os desdobramentos da Lava Jato têm o potencial de inflamar as ruas.
O líder da minoria na Câmara dos Deputados, Bruno Araújo (PSDB-PE), avalia que para o processo de impeachment ir adiante são precisos três igredientes: crime de responsabilidade, um cenário de depressão econômica e mobilização popular. "Sem uma desssas coisas, qualquer movimento é fadado ao insucesso. A mobilização é tão importante quanto os elementos de ordem formal. Sem ela o movimento tende a perder legitimidade", afirmou o deputado, que integra a comissão especial que avaliará o mérito da ação de impeachment. Já o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos políticos mais aclamados pelos manifestantes, disse que a mobilização é "fundamental" para dar força ao processo. "É justamente o que está faltando agora", afirmou. Assim como boa parte da oposição, os grupos também veem com simpatia a ascenção do vice-presidente Michel Temer (PMDB) ao lugar de Dilma.
O PT também sabe da importância de estar nas ruas e convocou sua militância e movimentos historicamente ligados ao partido para protestar em defesa da presidente Dilma - o ato foi marcado para o dia 16 de agosto. Com o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vágner de Freitas, passou a última semana se articulando com lideranças de outras entidades, como Movimento Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), União Nacional dos Estudantes (Une) e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), para definir estratégias a fim de combater a ideia do impeachment. Entre elas, estão a de taxar o movimento de "golpista" e de contrário ao interesse dos trabalhadores. Freitas promete para o dia 16 a "maior unidade da esquerda brasileira" desde os protestos pelo afastamento do ex-presidente Fernando Collor de Mello - que não foi considerado 'golpe' pela esquerda.
Até aqui, no entanto, o movimento pró-impeachment conseguiu mobilizar um efetivo maior do que o favorável ao governo. Basta comparar os números dos maiores protestos dos dois grupos: 1 milhão de pessoas em 15 de março e 40.000 pessoas em 20 de agosto, em São Paulo, respectivamente, conforme cálculos da Polícia Miliar. O triunfo dos anti-governo também é reflexo da baixíssima popularidade da presidente Dilma entre os brasileiros. Segundo a última pesquisa Datafolha, ela superou em taxa de reprovação o próprio Collor.
Fazendo um paralelo entre 1992 e 2015, no entanto, o contexto socio-político é bem diferente: os caras-pintadas só apareceram às ruas quando o processo já estava deflagrado no Legislativo e o partido de Collor, o PRN, não tinha nenhum respaldo na sociedade. Já a presidente Dilma tem uma tropa ao seu dispor que, mesmo descontente com a atual política econômica do governo, tem capacidade de colocar milhares de pessoas na rua - nem que seja militância paga. Um dos grupos deverá ter mais influência sobre o Congresso..
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