© SECOM João Doria, em seu último dia como Prefeito de São Paulo |
Ainda faltam cinco meses e a clareza exata de quem serão os
candidatos, mas a disputa pela herança do PSDB, partido que governa o Estado mais rico do país há
mais de duas décadas sem rupturas, já começou incerta em São Paulo. As
pesquisas mais recentes mostram que o MDB pode reassumir o posto que perdeu em 1995, diante
do desgaste sofrido pelo tucano João Doria no pouco mais de um ano em que esteve na
Prefeitura de São Paulo. Aproveitando-se desta brecha deixada pelo ex-prefeito,
o atual governador, Márcio França (PSB), que assumiu após a saída de Geraldo
Alckmin para disputar a Presidência, tenta se aproximar do legado do
partido de seu antecessor, mas ainda aparece muito atrás na corrida. Tem,
entretanto, duas vantagens: a máquina administrativa e a vitrine que o cargo de
governador conferem a ele.
A última pesquisa Ibope, realizada entre os dias 20 e 23 de
abril, apontou que Doria e Paulo Skaf (MDB), também presidente da Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), estão empatados tecnicamente na
preferência dos eleitores. Mas uma possível aliança que está sendo costurada entre
Geraldo Alckmin e Michel Temer na disputa nacional pode criar uma chapa única
entre PSDB e MDB em São Paulo, caso um dos candidatos seja convencido a abrir
mão da liderança. Enquanto o cenário não fica mais claro, Alckmin, que tenta se
tornar um candidato mais competitivo para a presidência, se
aproveita de dois palanques no Estado: o de França, que ao se apresentar aos
eleitores defende o legado do tucano, e o de Doria, que foi apadrinhado pelo
ex-governador há dois anos, numa relação que se tornou turbulenta quando o então pupilo começou a
circular pelo Brasil para tentar viabilizar uma candidatura a presidente.
Com o bordão "sou gestor, não sou político", Doria
assumia a Prefeitura de São Paulo no início de 2017 com a popularidade nas alturas. Havia vencido o então
prefeito petista Fernando Haddad no primeiro turno com 53% dos votos e
prometia resolver as mazelas da maior capital do país com a agilidade de um
presidente de multinacional. Um ano e três meses depois, deixou a gestão municipal para disputar a vaga de
governador após perceber que não conseguiria retirar o lugar de candidato à
presidência de Alckmin. Não executou qualquer medida marcante, o que impactou sua imagem de gestor e aproximou-a a de um
político tradicional, ao desistir do cargo por um posto mais importante. Como
resultado, sua taxa de rejeição na capital mais que dobrou: foi de 19% (no
último Datafolha antes da eleição municipal) para 49% no levantamento deste
mês. A porcentagem é maior até do que a que Haddad tinha na véspera das
eleições para Prefeitura (45%).
Apesar de aparecer como primeiro colocado nas pesquisas para o
Governo de São Paulo, o antes promissor Doria tornou-se, portanto, uma
incógnita. Neste momento, ele mantém a vantagem de ter uma rejeição menor no
interior, onde é muito menos conhecido e está concentrado 73% do eleitor do
Estado, segundo dados da professora Maria Teresa Kerbauy, dos programas de
pós-graduação de Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos
(UFSCar) e de Ciências Sociais da Universidade Estadual Paulista (Unesp). De
acordo com os números do último Datafolha, a quantidade de pessoas fora da
região metropolitana que afirmam que não votariam no tucano de jeito nenhum cai
para 25% e se aproxima da rejeição obtida por Márcio França (23% no interior e
20% na região metropolitana). Candidatos com menor rejeição têm mais chances de
crescer ao longo da campanha. "A rejeição ao Doria aumentou na capital e
não no interior. E São Paulo tem uma particularidade de que é o único Estado em
que o número de eleitores do interior é mais do que o dobro da capital",
diz ela.
"Doria está fragilizado? Sim. Mas ainda tem uma estrutura
partidária importante e pode haver uma reversão. A decisão do eleitor é sempre
estratégica e tudo depende de quem serão os candidatos na disputa. Se Márcio
França enveredar por um discurso mais radical ou de esquerda pode perder
pontos", ressalta a professora Elizabeth Balbachevsky, do Departamento de
Ciência Política da USP, em referência à legenda do candidato, o Partido
Socialista Brasileiro. E é isso que Doria já demonstra que pretende explorar em
seu rival: apelidou-o recentemente, em uma entrevista a uma rádio, de Márcio Cuba. Acabou
ameaçado por França de ser processado por crime contra a honra.
"A rejeição ao Doria acontece porque ele se elegeu com o
discurso de que não é político e depois que assumiu fez política e não gestão.
Isso causa um dano à candidatura, mas nada que não seja recuperável. Caso ele
consiga se explicar bem e convencer poderá ser eleito", ressalta Carlos
Cruz, presidente da Associação Paulista de Municípios, que reúne gestores
municipais de São Paulo. "Mas o herdeiro de Alckmin para mim é Márcio França,
que indica que a política de Alckmin é a que pretende adotar. Uma coisa é ser
candidato a Prefeito de São Paulo, outra a Governador de um Estado com 645
municípios e cada um com um chefe político diferente, que é o prefeito. Os
prefeitos de São Paulo conhecem França e não Doria, por isso ele sai na
vantagem", ressalta ele. O atual governador paulista marcou 8% no último
Datafolha e 3% no Ibope.
Mas qual o segredo do PSDB para governar há 20 anos?
Desde 1994, quando Mario Covas ganhou o Governo de São Paulo,
o partido tucano assegura as vitórias em todas as eleições estaduais. Com isso,
conseguiu governar por mais de 20 anos sem interrupções importantes: deixou de
ser o partido no comando apenas quando os governadores eleitos abriram espaço
para seus vices ao renunciarem para disputar a Presidência, como ocorreu neste
ano. Para especialistas, isso acontece por três principais motivos: 1. a
criação do partido, que em São Paulo herdou os cargos mais fortes e ligados à
linha democrática do então PMDB após o final da ditadura; 2. a especial atenção
dada pelo partido ao interior do Estado, que concentra mais de sete em cada dez
eleitores; 3. a falta de nomes fortes do PT na disputa.
"A hegemonia do PSDB em São Paulo deve-se a alguns
fatores específicos. Primeiro, à base paulista do partido desde sua fundação em
fins dos anos 1980, oriunda da cisão de um dos mais significativos grupos do
PMDB, do qual Franco Montoro era uma das principais lideranças. O PSDB herdou
recursos políticos, estrutura, adesões partidárias, e isso foi sendo
fortalecido ao longo do tempo, sobretudo no interior do Estado", explica
Rachel Meneguello, professora de ciência política da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp).
"Em segundo lugar, a reeleição continuada do partido no
Governo estadual conferiu ao PSDB um controle da máquina e dos recursos
políticos em um volume significativo, reforçado pela presença do partido na
Presidência da República com Fernando
Henrique [Cardoso] entre 1995 e 2002", ressalta. "No
interior, há uma forte fragmentação entre partidos. Em 2016, por exemplo, 22
partidos dividiram as 645 prefeituras do Estado, mas é ali que o Governo exerce
sua influencia através da máquina de Estado e ali reside o volume de força
eleitoral do PSDB", complementa.
Para Balbachevsky, o PT, que poderia ser o maior rival do
partido no Estado, nunca lançou candidatos verdadeiramente competitivos. Neste
ano, optou pelo ex-ministro do Trabalho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e
sindicalista Luiz Marinho, escolhido por prévias numa disputa com Elói Pietá,
ex-prefeito de Guarulhos. "Marinho tem projeção regional no ABC, mas não
no resto do Estado", ressalta ela. O candidato petista apareceu com 4% no
Ibope e 7% no Datafolha.
Já Meneguello acredita que o problema do PT no Estado é sua
pouca força no interior. "Apesar de ser território de origem do partido,
ele sempre teve dificuldades eleitorais em São Paulo, explicadas, em boa
medida, pela preferência dominante pelo PSDB no interior. O sucesso eleitoral
do PT tem limites definidos em regiões específicas, e as preferências por ele
sempre foram maiores na capital: em todas as eleições municipais paulistanas
desde 1992, o PT sempre figurou como um dos contendores da disputa, uma
presença que não ocorre em grandes municípios do interior, por exemplo",
explica ela. A única exceção foi em 2016, quando Doria ganhou de Haddad no primeiro turno.
A derrocada do PT em 2016 também foi grande no interior do
Estado, por conta da aguda crise política que o partido vivenciava nas eleições
municipais. "Enquanto em 2012 o PT elegeu 74 prefeitos, em 2016 só sete
candidatos do partido conseguiram ganhar. O mesmo aconteceu com o número de vereadores:
foram 6.816 eleitos em 2012 contra 2.990 em 2016", ressalta a professora
Kerbauy. Com menos políticos eleitos no interior, o PT terá menos palanque, o
que dificultará ainda mais suas possibilidades. A disputa, por isso, recai em
quem será o herdeiro do PSDB no interior do Estado.
fonte : MSN noticias .
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