Após o depoimento prestado à Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, o ex-presidente Lula fez um pronunciamento no diretório do Partido dos Trabalhadores em São Paulo. Apesar de ressaltar a gentileza dos agentes da polícia federal que foram a sua cassa na manha desta sexta-feira ( 04/03), Lula diz que se sentiu intimamente magoado com a ação: “Queria dizer para vocês que hoje, na minha vida é um dia de indignação, da falta do respeito com a democracia, do autoritarismo”. O ex-presidente afirma que se o Moro quisesse falar com ele bastava apenas convidá-lo.

Lula afirma ter se sentido como um prisioneiro durante a ação da PF."Eu iria, mas me senti prisioneiro hoje de manhã. Eu sinceramente já passei por muitas coisas, não sou homem de guardar mágoa, mas acho que nosso país não pode continuar assim, amedrontado, não pode ver qualquer juiz que puna alguém receber prêmio da Globo, da Veja", afirmou. "Todo dia tem que prestar conta, antes dos advogados saberem que seu cliente vai ser chamado, a imprensa recebe. Eu sou uma homem que acredito em instituições de estado fortes, porque acho que as instituições fortes são a garantia do estado democrático."
Lula afirma já ter prestado 3 depoimentos somente em 2016, sendo um deles, durante suas férias: “Eu jamais recusaria prestar depoimento aqui. (...) A coerção da polícia na minha casa de manhã, fazer as mesmas perguntas do Ministério Público. Não me recusei ir a Brasília prestar depoimento e não me recusaria aqui. Mas o promotor fez um pré-julgamento e não tinha motivo para o prestar julgamento. O Moro não precisaria ter mandado uma coerção da polícia federal, na casa dos meus filhos e companheiros”.
Criticou imprensa
Lula citou constantemente também seu passado pobre como uma suposta causa da ação da Justiça contra ele. Críticas à imprensa, com quem membros da polícia trabalhariam "em associação", também foram constantes. 
"Eu não estou indignado com os jornalistas, mas com o comportamento de determinados meios de comunicação pelo julgamento precipitado. Hoje, as manchetes amedrontam o Judiciário, a Polícia Federal, o MPF, os políticos. Só tem um jeito de levantar a cabeça. É a gente não ter medo e fazer com que todos sejam tratados como nós somos tratados", declarou.
"Hoje nesse país ser amigo do Lula virou uma coisa perigosa", disse. Segundo o ex-presidente, a lógica que utilizam contra ele é: "é preciso criminalizar o Lula, criminalizar o PT, porque esses caras podem continuar no governo". Então, Lula passou a citar seu legado e coisas que ele teria feito pelos pobres do Brasil. "Já me considera bi-bom quando elegemos a Dilma e me considerei tri-bom quando reelegemos a Dilma", gabou-se.
Ao justificar suas caras palestras bancadas por empreiteiras, um dos alvos da investigação da PF, Lula disse que o que os contratantes queriam saber dele era:
"Que milagre vocês fizeram pra aprovar o Prouni? Que milagre vocês fizeram pra aprovar o Fies? Que milagre vocês fizeram para levar energia a 15 milhões de pobres nesse país? Qual foi o milagre que vocês fizeram? Era isso que as pessoas queriam saber. Por isso me transformei no conferencista mais caro do mundo junto com o Bill Clinton", disse, afirmando que o ex-presidente americano era seu "paradigma" para cobrar mais caro nas palestras.
"As pessoas se importam que eu cobre R$ 200 mil dólares e não se importam que o Clinton venha aqui na CNI (confederação Nacional da Indústria) e cobre 1 milhão", disse ainda. "Os vira-lata (sic) batem palma", completou, criticando quem o critica e aplaude Clinton.
Pobreza
Para enfatizar sua origem humilde, Lula disse que recebeu de presente certa ocasião um decanter, jarra especializada para vinho e, quando chegou em casa, surpreendeu-se com o uso de que fez do objeto sua mulher e ex-primeira dama, Marisa Letícia. "Dona marisa tinha colocado flores", disse, em tom de contador de histórias, para risada dos presentes.
"Não sei como não me perguntaram (no depoimento à Polícia Federal) do meu decanter", alfinetou ainda os investigadores.
Criticando a "elite" que supostamente o persegue, Lula disse: "eles ficam indignados com meu vinho, quando vão na casa da elite brasileira, ficam boquiabertos: 'nossa, que vinho maravbilhoso'".
Sobre sua mulher, Lula disse que Marisa trabalhava como empregada doméstica quando os investigadores que foram a sua casa nem tinham nascido ainda. Por isso, ela deveria merecer respeito.