A presidente Dilma Rousseff criticou nesta sexta (18) o grampo telefônico divulgado pelo juiz federal do Paraná Sérgio Moro em que ela aparece conversando com o ex-presidente e ministro da Casa Civil Luiz Inácio Lula da Silva. A fala foi dada durante entrega de casas do Minha Casa Minha Vida em Feira de Santana (BA).

"Grampo na presidência da república ou em qualquer um de vocês não é algo lícito. É algo ilícito, previsto como crime na legislação. Não é por ser eu, por ser Dilma, por ser presidenta", disse. "Mas presidente do Brasil, presidente de qualquer lugar do mundo, tem garantias constitucionais. Ele não pode ser grampeado a não ser com atorização expressa da Suprema Corte do País", continuou.
"Em muitos lugares do mundo, quem grampear um presidente vai preso", afirmou em seguida. "Grampeia o presidente da República nos Estados Unidos e vê o que acontece com quem grampear", desafiou a presidente.
Sem citar Moro diretamente, Dilma disse em seguida: "eu vou tomar todas as providências cabíveis neste caso".
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Antes de combater a legalidade do grampo, Dilma chegou a negar a interpretação dada a seu conteúdo. No áudio com Lula, a presidente diz: "eu tô mandando o 'Bessias' junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?".
Dilma afirma que "Marisa (Letícia, mulher de Lula) estava doente e ele não ia voltar para a cerimônia de posse". De acordo com a presidente, quando ela ligou para seu antecessor, este estava no aeroporto. O objetivo seria, na versão oficial do governo, ter o documento assinado pelo ex-presidente para empossar Lula na Casa Civil mesmo com sua eventual ausência.
Dilma x Nixon
A presidente voltou ao tema no final do discurso e citou despacho de Sérgio Moro de quinta (17) em que ele defendia a legalidade dos grampos alegando que foram feitos no celular de Lula quando este não possuía foro privilegiado.
Moro disse que o o grampo foi coletado "fortuitamente" e acrescentou. "Nem mesmo o supremo mandatário da República tem um privilégio absoluto no resguardo de suas comunicações, aqui colhidas apenas fortuitamente, podendo ser citado o conhecido precedente da Suprema Corte norte-americana em US v. Nixon, 1974, ainda um exemplo a ser seguido", sugeriu Moro no documento. Richard Nixon (1913-1994) renunciou em meio a processo de impeachment por tentar obstruir a Justiça no escândalo de Watergate.
Dilma rebateu: "outro dia deram como exemplo o presidente Nixon (...). Ele grampeava todo mundo que entrava na sala dele. E aí? e aí, não ficou assim não". Dilma continuou. "A suprema corte dos EUA mandou ele entregar todos os grampos e proibiu ele de grampear".
E terminou, sobre o assunto: "nem presidente da república pode grampear sem autorização. O que dizer de outras hierarquias? Eu não sou passível de grampo a não ser que o Supremo Tribunal Federal autorizasse".